segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Memória

A chuva caia naquela cidade fria. Nós quatro ríamos, nessa época não tínhamos medos, eles só tinham se apresentado como bicho-papão e papa figo. A chuva só nos trazia a alegria. Antes dos primeiros pingos tocarem o chão seco já estávamos despidos. Corríamos as gargalhadas, nus e sem medo. Os pés descalços tocavam o barro cru e frio. Eram oito pés que queriam andar nas nuvens. Levantávamos a cabeça com a boca e os braços abertos, e, ao som da infância, bebíamos da água do céu.

As mãos se tocavam, estava feita a roda. E rodávamos. E cantávamos. E ríamos. Não tínhamos medo de espinhos ou sereno, os pés descalços nos protegia, o corpo nu nos imunizava.

Lembro de como a água descia forte pelo lado da nossa casa, dobrava a esquina contornando a calçada e corríamos atrás daquilo que nos parecia um rio. Navegamos ali; era o nosso rio e nos levaria onde quiséssemos. Não tínhamos destino, cada chuva era um canto. Medo! também não tínhamos. Afinal, estava chovendo; estávamos nus e com os pés descalços.

3 comentários:

Anônimo disse...

vai um beijo no coração. nua e com os pés descalços e embriagada de chuvas.
essa tal de s....., que brincava de roda também.

Nata disse...

Essas águas e lembranças... tão nossas, tão alheias a nós.

Nata disse...

Só torço para que essa inundação seja daquelas que ajudam a semear a terra do coração... Beijos :)