quarta-feira, 19 de setembro de 2007


E como um cão vira-lata vira a rua passar buscando
apenas lugares que pudessem lhe abrigar. Os jardins
passaram, o mar passou. Pessoas pesadas passaram
pisando o chão. O pobre cão com sua língua estirada
quase até o chão, não olhara nada. Noite passada tinha
sido atropelado por um carro que vinha apressado e
também não vira nada passar, nem o cão. O deixou
cego o olho esquerdo.

Já havia se passado metade de sua vida, e ele não
achara o que procurava. Agora só com o olho direito,
via apenas o lado direito da sua rua. Já havia
desistido de falar, sua alma estava doente demais pra
isso. Com passadas inseguras de um quase cego, o cão
mudo seguia trêmulo sua caminhada. Vez por outra
esbarrava em postes, árvores, pedras; isso lhe rendera
feridas por todo lado esquerdo do corpo.

O cão cansou! Com a boca amarga de quem já não
falava, deitou sobre o lado inteiro do corpo. Deixou as
feridas ao sabor do céu, o olho direito olhava o chão
no qual aquele cão passara toda existência, ao seu lado
esquerdo um girassol que ele nunca vira. E ali morrera
o cão, olhando para o chão da sua vida.




4 comentários:

Anônimo disse...

boa história...
beijos muitos
essa tal de s.....

Anônimo disse...

ei, ei, ei
numa conversa informal agora no almoço com a nossa genitora sabe o que ela disse? quando estava grávida de você o médico dizia que ouvia dois corações batendo, mas só via na ultra uma cabeça e não podiam ser gêmeos. adorei isso dos dois corações batendo. bom, é um pedacinho lindo do começo da tua história não achas?
amo muito
beijos

Ralph Luis disse...

bom ler seus textos ... saudades
abs

Wagner Bezerra disse...

gostei do texto muito bom...=D